quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Um post estúpido

Os meus dois leitores (dois leitores!, meu Deus, que optimismo) vão ter de ter paciência, pois este post vai ser um pouco confuso. Na verdade, estou a utilizar a escrita para, uma vez mais, organizar ideias; ferramenta que uso amiúde para o efeito.

Na verdade, nem sei muito bem por onde começar, mas talvez por Roma; sim Roma.

Pão e circo, foi o que Roma usou para ter as massas mais ou menos conformadas...

Aqueles que estão no poder terão sempre de se preocupar com essa massa amorfa de estúpidos, que é a esmagadora maioria da humanidade.

Na Roma antiga, todos o sabemos, oferecia-se pão e circo - panen et circenses, locução com que o poeta satírico Juvenal criticava os que no Fórum pediam trigo e espectáculos gratuitos no circo, ou seja, aqueles que se contentavam com comida e diversão grátis, sem questionarem o desempenho dos governantes que, dessa forma, garantiam o apoio da população (segundo nos diz o Priberam, mais ou menos por estas palavras).

O Império vigente fez e faz o mesmo, mas em muito maior escala, claro está, e a mesma "metodologia" se tem espalhado pelo mundo, com menor ou maior grau de "oferta". Oferta entre aspas, pois, ao contrário do que acontecia na Roma antiga, agora pagamos para ir ao "circo", e não dei conta de que nos ofereçam comida.

Parece-me uma fórmula que apenas mantém a sua eficácia por um (in)certo período de tempo; mas que acabará por descambar, mais dia, menos dia. Estamos a assistir a essa derrocada.

Um bom Amigo diz, bastas vezes, que o problema não está no indivíduo, ou seja, é possível falar com cada pessoa em particular, e manter uma conversa mais ou menos elaborada e quase sempre cordial, sem grande dificuldade. O problema está nas massas; quando o Homem se junta em vastos grupos, aí é que surge o "descontrolo". É capaz de ter razão, não sei.

Mas eu, que sou parvo (e também um pouco estúpido), acho que se trata, na verdade, de um problema que devia ocupar a todos os filósofos, antigos, contemporâneos, e futuros: será possível erradicar a estupidez?

Já pensei que sim, depois pensei que não, agora estou mais ou menos esperançoso...

Uma das minhas longas batalhas prende-se com a ideia de que se continua a confundir ignorância com estupidez, assim como se confunde conhecimento com sabedoria.

Mas, se é fácil combater a ignorância, com conhecimento; assim não é com a estupidez. Não há fórmula precisa e infalível para transformar um estúpido num sábio (ou, pelo menos, num "não-estúpido").

Mas (outro mas), se é possível a um sábio tornar-se ainda mais sábio (ou tornar-se sábio, sem antes o ser), por dedução lógica, também será possível a um estúpido ficar menos estúpido, e mesmo deixar de o ser.

E julgo também que, não havendo fórmula, haverá pelo menos uma ou duas coisas que é possível fazer para que alguém fique menos estúpido. 

A primeira, é deixar a pessoa errar, errar muito, uma e outra vez, para que aprenda com o erro. Se serve ao sábio, servirá ao estúpido. Este último, terá de errar mais vezes, por ventura, para conseguir aprender, mas... a seu tempo, aprenderá.

Antes de apresentar outra sugestão, vou elaborar um pouco mais esta ideia...

Reparamos muitas vezes que são aquelas pessoas que menos dificuldades passaram na vida as mais estúpidas. Eu, um defensor moderado da vida burguesa, consigo aceitar que esta mesma burguesia pode muito bem ser a génese de gente (muito) estúpida, em catadupa, se não houver cuidado na educação para os valores - que muitas vezes sabemos não existir. Quantos são os pais que tudo dão aos filhos, sem filtro, sem educar, sem fazer ver o verdadeiro "valor" das coisas? Estão, inevitavelmente, a criar estúpidos.

E ainda, que é dizer mais ou menos a mesma coisa, um fulano chamado G. Michael Hopf, num livro intitulado "Those who remain" (que não li), diz-nos que «tempos difíceis criam Homens fortes, Homens fortes criam tempos fáceis. Tempos fáceis criam Homens fracos, e Homens fracos criam tempos difíceis». E assim é; para além de estar à vista de todos os tempos que estamos ora a viver, e que tipo de Homens somos, mas não queria ir por aí.

Assim, um caminho que proponho para a diminuição da estupidez, é o da dificuldade, do erro, da "descoberta de soluções" por si mesmo. 

O outro será o da diversidade, isto é, expor a generalidade das pessoas ao diverso, ao inesperado, ao insólito, ao improvável, em contraciclo com o hoje vemos, onde se promove a uniformização, o pensamento único (e inquestionável). 

A diversidade tem o condão de abrir os horizontes de quem a esta se expõe. Todos sabemos que viajar é algo que nos alarga o espírito, pelo contacto com outras culturas, outras formas de vida. Mas, ouvir uma música antiga, ver uma pintura menos conhecida, de um autor esquecido, ler um clássico da Literatura, etc., julgo que terá o mesmo fim.

Outras formas ou fórmulas haverá, não duvido, para minimizar um dos maiores (senão mesmo o maior) flagelos da Humanidade: a estupidez. Pois é a estupidez a porta de entrada para tudo o resto: a ganância, o egoísmo, a intolerância, a cupidez, o apego, a inveja, etc., etc.

O que se tem feito nesse sentido é pouco mais do que nada. Pelo contrário, é um problema que se tem agravado, e os resultados estão à vista.

O Império foi arrogante ao julgar-se capaz, pelas inúmeras distracções que soube criar, de manter as massas sob controle. Falhou. Ao invés de arrepiar caminho, "agudizou a metodologia", mas desta feita, impondo-se de forma autoritária na vida de cada um de nós. Hoje vivemos em ditadura (quase plena), não duvidemos. Mas, uma vez mais, não quero ir por aí.

Terminaria por dizer uma frase que me terá surgido em plena insónia, que é mais ou menos isto: «se a ignorância se combate de fora para dentro, com um livro, um professor, um amigo, um pai; a estupidez combate-se de dentro para fora, pelo auto-conhecimento, que surge pela experiência, pelo erro», e com a exposição ao diverso, acrescentaria agora.

Claro que este post é um contributo para além de humilde; será até um pouco estúpido... Não arrogo, não o posso fazer, ter a solução para o que apelidei supra como sendo um dos maiores flagelos da Humanidade. Mas continuarmos colectivamente a assobiar para o lado, como se não se tratasse de um problema com substrato, também não me parece solução.

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