quinta-feira, 25 de junho de 2020

"Discurso circular"

Tenho 2 ou 3 amigos que apresentam uma característica curiosa e que se prende com o facto de fazerem uso de um "discurso" perfeitamente "circular", em torno de 2 ou 3 assuntos únicos e, em alguns casos, até menos do que isso.

Um deles, resume o seu discurso a três temas: margem sul, Benfica e José Saramago. Outro, não passa um dia sem apontar o dedo à (e aos de) “direita”. Todo o santo dia… Outro ainda, vem assinalar orgulhosamente, de quando em quando, que está “do lado certo da História”, seja lá o que isso fôr…

E há mais casos, muitos mais...

É certo que, se lhes assiná-lo essa característica, é porque em mim também se encontra.

É característica que não aprecio, diga-se, pelo que procuro não fazer o mesmo, sabendo que falho muitas vezes, quando regresso a assuntos que desde há muito me têm prendido a atenção.

Mas, tendo disto consciência, procuro, de forma insistente, novos temas, novos interesses, ou até novas abordagens a temas antigos, para que não cristalize, não calcifique, com as consequências nefastas que isso representa, como seja a criação de dogmas, o que devemos evitar a todo o custo.

Como dizia Robert Anton Wilson, “quando o dogma entra no cérebro, toda a actividade intelectual cessa”. E é por isso, pela presença do dogma, da ideia feita, que vemos pessoas, a quem reconhecemos grande (ou pelo menos alguma) capacidade intelectual, a serem, em certos momentos, autênticas bestas (não há como dizê-lo de outra forma).

Também é certo, parece-me, que não podemos viver sem uma certa dose de certezas, sobre determinados e específicos assuntos. Mas julgo que a dúvida será sempre melhor companheira.

Houve até quem tenha assinalado, mais ou menos por estas palavras, “que o problema do Mundo é que os estúpidos estão cheios de certezas e os sábios estão cheios de dúvidas” (era só fazer uma pesquisa na net, para saber quem foi que o disse, mas não me apetece).

Por fim, vale a pena dizer que, como em tantas outras coisas, é mais fácil a teoria do que a prática. Ou seja, é fácil ter esta consciência ou, pelo menos, entendê-la intelectualmente, mas é difícil a prática e evitar cair no erro.

Tenho a impressão de que já falei sobre este assunto uma porrada de vezes… lá está.

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