sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Neutralidade

Diz-nos Dante Alighieri que «no Inferno, os lugares mais quentes são reservados para aqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise».

Parece-me que esta ideia tem vindo a ser explorada em demasia, servindo para nos manter divididos, muitas vezes entre duas mentiras.

Julgo que será conveniente entender a diferença entre neutralidade e independência. E, já agora, perceber o que são tempos de crise.

Estamos, claramente, em tempos de crise, que não se resumem à pandemia. Mesmo eu, que sempre escolho a neutralidade ou, melhor dizendo, a independência, não consegui manter o silêncio face a esta situação.

No entanto, em tantas outras questões, mantenho-me afastado de polémicas, dicotomias, discussões estéreis, que a nada nos levam, que não à divisão e ao afastamento.

Não estou a dizer "faz como eu. Eu é que sei..."

No entanto, parece-me evidente que muitas das dicotomias sobre as quais somos "chamados" a tomar uma posição não passam de uma escolha entre uma mentira e outra, como disse acima. Nestes casos, é preferível ser independente, ainda que nos queiram enviar para os lugares mais quentes do Inferno.

Claro que a independência tem, desde sempre, um preço muito elevado. Um preço que muitos não estão dispostos a pagar. E, assim, refugiam-se em ideologias, partidos, agremiações, clubismos, que lhes "dizem" o que pensar e quando pensar.

Um caminho pela via do meio, independente, será mais difícil e solitário mas, paradoxalmente, é aquele que nos deixará mais próximos do outro e, o que é mais importante, de nós mesmos.

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