quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A Árvore que se libertou da Maçã

(Série Criative-se - quase em jeito de conto infantil)

Foi, em tempos, uma semente. Envolveu-a a escuridão e a humidade nutriu-a. Decompôs-se e começou por criar pequenas, mas fortes raízes. Quando se sentiu com força, rompeu a terra em direcção à luz. Sentiu, com volúpia, os primeiros raios de Sol, e quis abraçar para sempre aquela sensação. Por isso, cresceu, juntou forças e cresceu um pouco mais. A paciência, muita. Era apenas um pequeno galho de onde brotou uma folha, depois outra e ainda outra, depois muitas. O galho ganhou impulso, energia, gozo e satisfação por crescer e cumprir a sua missão. A paciência, muita.
Passado o tempo que teve de passar, aquele galho virou tronco. Um tronco forte e robusto, capaz de suportar o peso de outros galhos, ramos e folhas.
E, naquela manhã luminosa, fresca, mas solarenga, formou-se a primeira maçã. Pequena, rija e verde. Foi crescendo e amadurecendo e foi colhida. Com ela, muitas outras e a árvore sentiu-se feliz. Frutos do seu esforço serviam agora para alimentar bocas sedentas de sabores frescos e delicados, como são os das maçãs. E a árvore sentiu-se feliz.
Mas houve uma pequena maçã que não foi colhida. Com o tempo, libertou-se da árvore e caiu, redonda, no chão. Rebolou um pouco e acabou por partir-se em dois pedaços. A árvore ficou triste por ver assim um fruto seu. A árvore, no entanto, rapidamente esqueceu este episódio, para o relembrar apenas quando viu despontar um pequeno galho, ali bem perto. Nesse momento recordou, recordou o dia em que também ela se libertou da maçã.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Natal dos pequeninos

- Pai - filha a apontar para a montra com um presépio -, este é o menino Jesus, este é o S. José e estes são os Três Reis Magros...

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pedro Páramo de Juan Rulfo

«Uma das melhores novelas das literaturas da língua hispânica e provavelmente da literatura universal.»
Jorge Luís Borges

«Pura criação, dessas que fazem que perca o fôlego como se o ar estivesse envenenado(sic).»
Hélia Correia

«Um monumento da história da literatura.»
António Manuel Venda, Magazine Artes

«O fascínio e o vigor das palavras enganadoramente simples.»
Helena Marques

«Pedro Páramo é uma peregrinação da alma em pena.»
Octávio Paz

«Uma obra fundamental do século XX. Há qualquer coisa de sublime em Pedro Páramo
Raquel Ribeiro, Público

«Já há muito tempo que não me sentia tão ignorante.»
Luís Carlos Silva, Azul Profundo

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Locais de Eleição #1

Hoje fui àquele que se pressupõe ser o primitivo santuário do deus Endovélico, o sítio da Rocha da Mina. A foto que se apresenta não foi tirada hoje, mas sim há cerca de 7 anos, da primeira vez que ali fui. Nada sabia sobre Endovélico na altura e hoje pouco mais sei. No entanto, é sempre com alegria que regresso a este local que apenas tem para oferecer a sua paz e a sua energia. Uma paz que nos acalma e uma energia que nos regenera. É algo que não se explica, sente-se.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mais uma corrente? Porque não?

Agora complica-se um pouco mais.
O objectivo é, da biblioteca particular, escolher 5 livros que sejam caricatos, peculiares ou curiosos (que no fundo é tudo a mesma coisa), mas que nos digam algo, que sejam de certa forma especiais e, depois, partilhar com a blogosfera.
Eu escolhi:

LUSITERNOS

Poema Épico
Comemorativo do oitavo centenário da Tomada de Lisboa Capital do Império
de Cypriano Santana
Composto na Tipografia Alfa em Junho de 1947
Notas: Um pequeno livro com 60 páginas composto por 25 poemas e que acaba com a indicação de que é o fim do primeiro volume. Desconheço a existência de outros volumes. Se alguém souber...

Amadis de Gaula

Selecção, tradução, argumento e prefácio de Rodrigues Lapa
2ª Edição
da Colecção Textos Literários
Composto e Impresso na Gráfica Lisbonense em 1941
Notas: Uma singela edição deste clássico da literatura cavaleiresca.

Namorando o Amanhã

de Agostinho da Silva
1ª Edição
Editado pela Cooperativa de Animação Cultural de Alhos Vedros em 1996
Notas: Um livro que é o resultado de uma conferência proferida em 1989 e que resume muitíssimo bem o pensamento desconcertante do Mestre Agostinho da Silva. Uma pérola descoberta na Livraria Barata da Avenida de Roma.

O Processo dos Templários

de A. Vieira d'Areia
Nº1 da Colecção Enigmas da História
Editado pela Civilização Editora, sem data, mas com assinatura do 1º dono de 19 de Fevereiro de 1953
Notas: Este é só para chatear os entendidos. Um livro que já não é nada fácil de encontrar, mas referido vezes sem conta pelos estudiosos desta temática que já fez correr rios de tinta.

Armorial Lusitano

Genealogia e Heráldica
Editorial Enciclopédia, Lda
Lisboa, 1961
Notas: Sempre quis ter uma cópia! Podia estar em melhor estado de conservação, mas foi o que se conseguiu arranjar.

Podiam ter sido outros, mas foram estes!

Passo, então, o desafio ao Sérgio Lavos, ao Pedro Vieira, ao Casanova, ao Zé Mário Silva e ao FJV. (Metade desta malta não vê este blog, mas fica a intenção)

P.S.: As imagens são dispensáveis.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O casamento de Pepe e Lupe

(Série Criative-se)

O casamento de Pepe e Lupe ficaria na memória de todos, por muitos e muitos anos. E mesmo aqueles que não tendo estado presentes, por tantas vezes terem ouvido contar os episódios caricatos que aí ocorreram, foi como também eles tivessem assistido em primeira-mão ao casamento de Pepe e Lupe.
E, assim, a memória de um casamento peculiar, único, irrepetível, perdurou e manteve-se viva muitos anos depois de Pepe e Lupe terem falecido.
O calor húmido, a terra que os convidados pisavam ao dançar e da qual se levantavam partículas de pó tão espessas que se podiam trincar, nada demovia quem quer que fosse e a farra durou três dias e três noites.
A comida que sempre escasseava, abundou e tinha o sabor da alegria e do amor que uniam Pepe e Lupe e que se estendiam aos seus amigos que muito os apreciavam.
Os Mariachis tocaram até os dedos sangrarem e até depois disso.
Ninguém percebia muito bem a razão de toda aquela alegria. Pepe e Lupe eram apenas dois simples aldeões que levavam uma vida pacata, que tiveram um namoro normal e que seguiu as regras há muito estabelecidas: distância, cordialidade, respeito e aceitação do conchavo paterno.
Mas talvez fosse essa alegria, a alegria das coisas normais, a alegria das coisas vulgares que a todos invadiu naqueles três dias e naquelas três noites, em que o ritmo do tempo abrandou e em que houve um lampejo da eternidade.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Sansão (único)

Fui hoje cortar o cabelo. Lembrei-me do que escreveu a Ana de Amsterdam [Sansão(3)], mas o facto de a moça que me lavou o cabelo ter um ar de presidiária (quase) assustador, afastou irremediavelmente a possibilidade de encontrar «qualquer coisa de perverso, de libidinoso» nesse gesto. Tive pena. Ainda assim, a moça até era simpática e, apesar de praticamente não me dirigir a palavra, riu-se várias vezes quando a colega falou do seu gato obeso enquanto arranjava as unhas dos pés à pseudo-tia de Corroios, que por ali se alongava.
O corte não ficou mal, ainda que a minha filha não tenha gostado. Disse-me mesmo que eu não devia ter ido cortar o cabelo(!). Mas acho que era já o sono a falar, pois adormeceu logo a seguir.
Amanhã volto a perguntar-lhe. Estou preocupado.

Lupe

(Série Criative-se)

. Batôn de Lupe
. Vestido de Lupe
. Tom de Voz

Lupe era uma mulher que gostava de cuidar de si. Usava sempre um batôn vermelho forte, que lhe ficava bem e que lhe embelezava o rosto queimado pelo Sol.
O gosto de Lupe era sui generis, no que dizia respeito à sua roupa e, em particular, aos seus vestidos. O seu vestido favorito era colorido, estampado com cornucópias, comprido e esvoaçante. Nenhuma vizinha se vestia como Lupe e nenhuma tinha coragem de lhe criticar ou imitar o estilo.
Lupe tinha ainda um tom de voz muito particular e que parecia quase desajustado numa pessoa da sua classe social. Parecia uma senhora de alta sociedade, mas assentava-lhe bem, apesar da sua humilde condição.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Pepe

(Série Criative-se)

. Camisa de Pepe

. Casa de Pepe
. Almoço preferido de Pepe

Debaixo de um sol abrasador, a camisa de Pepe colava-se-lhe ao corpo. Era velha, áspera e com imensos buracos, mas era a sua preferida e usava-a dias e dias seguidos, até que a sua esposa, Lupe, o obrigava a despi-la para que a pudesse lavar. Por vezes, Pepe ficava em tronco nu, enquanto a sua mulher lavava a camisa e enquanto esta secava. Muitas vezes vestia-a ainda molhada.
A casa de Pepe era pequena e estava em mau-estado. Mas Pepe cuidava atentamente para que se mantivesse confortável e, com o toque feminino de Lupe, esta era até bastante acolhedora. As paredes eram de pedra bruta e soltavam muito pó e Pepe queria revesti-las de barro, mas Lupe gostava daquele aspecto bruto, tosco, como o seu homem.
A comida preferida de Pepe era feijão com arroz. Herdara de seu pai este gosto; seu pai era brasileiro e um dia deixou o seu país em direcção aos Estados Unidos, mas apaixonou-se pelo México e aí se deixou ficar.

domingo, 4 de novembro de 2007

Criative-se

Estou a usar o manual de escrita critativa Creative-se da Companhia do Eu, composto pelo Pedro Sena-Lino, cuja capa e composição gráfica esteve a cargo das Manitas de Plata, duo de que conheço metade dos elementos, i.e., o meu Amigo Pedro Vieira, que teve a bondade de me oferecer o exemplar a que agora chamo de "meu".
Este intróito para dizer que vou passar a colocar aqui uns posts com os textos que têm vindo a lume, derivados do exercícios propostos no livro e, por isso, peço desculpa.
Peço desculpa pois os textos vão ser, naturalmente, muito fraquinhos. E penso que é suposto serem fraquinhos. Espero mesmo que sejam fraquinhos ou que eu os considere, daqui a alguns dias, meses, vá, anos, muito fraquinhos e que possa rir a bandeiras despregadas dos mesmos.
Será um sinal de que houve evolução!

Nova plataforma

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